anticoncepcionais

Ciclo menstrual e anticoncepcionais: Seus efeitos na pele

Hormônios e pele estão intimamente relacionados: não é por acaso que temos mais espinhas por volta da menstruação, nem que melhora a acne e a pele oleosa quando começamos a usar certos anticoncepcionais.

 

E isso ocorre porque as células da pele têm receptores para estrogênios e progesterona (principais hormônios sexuais femininos), sendo reativos às diferentes fases do ciclo menstrual e aos anticoncepcionais hormonais1,2.

 

Decidimos revisar os detalhes desse relacionamento e o que descobrimos - falando de maneira geral - é que:
  • É mostrado que o estrogênio e a progesterona inibem reações inflamatórias na pele. Então, quando seus níveis caem perto da menstruação, pioram as condições como acne, dermatite, psoríase e rosácea1.
  • Os métodos anticoncepcionais que não contêm hormônios (preservativo, DIU de cobre, métodos cirúrgicos, métodos naturais ou comportamentais) não afetam a pele.
  • Os métodos anticoncepcionais que contêm hormônios afetam a pele, de maneira diferente dependendo do anticoncepcional.
  • Aqueles que só contêm progesterona podem piorar acne, pele oleosa e hirsutismo (excesso de pelos no corpo)2,3.
  • Em contraste, anticoncepcionais combinados (contendo estrogênio + progesterona) melhoram acne, pele oleosa e hirsutismo. Isso é especialmente verdadeiro para comprimidos: o adesivo transdérmico e o anel vaginal o fazem, mas em menor grau. Entre os diferentes tipos de pílulas combinadas, não existem grandes diferenças em termos de efeitos na pele. As melhorias na pele oleosa podem ser observadas após o primeiro mês de uso, ao mesmo tempo que para notar melhorias na acne é preciso esperar pelo menos 3 meses2-4.
  • O estrógeno estimula a produção de pigmento na pele. Portanto, anticoncepcionais combinados (estrogênio + progesterona) têm o risco de causar melasma (aquelas manchas simétricas que aparecem no rosto, bochechas e testa), principalmente naqueles que têm histórico familiar e não cuidam do sol5. O risco relatado de desenvolver melasma ao iniciar anticoncepcionais combinados, é de 8% a 34%6.

 

Vale esclarecer que nem todos os métodos anticoncepcionais são indicados para todas as pessoas e que possuem seus efeitos adversos e contraindicações. Portanto, consulte sempre o seu médico assistente antes de iniciar ou interromper qualquer tratamento.

 

No post de hoje, você vai encontrar tudo sobre o ciclo menstrual, fertilidade, anticoncepcionais e como eles influenciam a pele, neste especial do #SkintellectualsTCL.

O que é o ciclo menstrual?

É um ciclo mediado pelo Sistema Nervoso e hormônios, que gera as mudanças necessárias no aparelho reprodutor feminino que possibilitam a gravidez ou, se isso não ocorrer, a menstruação.

Como é regulado e em que etapas?

Fase folicular (dia 1 a dia 14 aproximadamente)

  • Começa com a liberação do hormônio GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina) pelo Hipotálamo (setor do cérebro). O hipotálamo processa sinais de outros setores do Sistema Nervoso Central, do meio ambiente e do estado nutricional. Assim, sua função pode ser afetada pelo estresse ou por uma dieta hipocalórica7.
  • O hormônio GnRH estimula a glândula Hipófise (localizada na base do crânio), que secreta, consequentemente, FSH (hormônio folículo estimulante) e LH (hormônio luteinizante)7.
  • Os hormônios FSH e LH viajam através do sangue e estimulam o ovário7.
  • O FSH estimula a maturação de vários folículos ovarianos (estruturas que contêm ovócitos). Esses folículos também começam a produzir estrogênio (e baixos níveis de progesterona)7-9.
  • O estrogênio produzido pelo ovário provoca aumento da espessura da parede uterina, que passa a se preparar para receber uma eventual gravidez8.

Ovulação (dia 14 aprox.)

  • O estrogênio e a progesterona geralmente inibem a secreção hipofisária de LH e FSH por um mecanismo de retroalimentação negativa. No entanto, neste ponto do ciclo, altos níveis de estrogênio secretado pelo folículo desencadeiam um mecanismo transitório de retroalimentação positiva na hipófise (tornando-a mais sensível a GnRH), que gera um pico do hormônio LH. Este pico de LH faz com que um dos folículos se quebre, produzindo a liberação de um óvulo na trompa de Falópio (ovulação). O restante dos folículos atrofia7,8. O folículo que produz a ovulação é chamado Folículo Dominante (medindo aprox. 2 cm na ovulação)10.

Fase lútea (dia 14 a dia 28, aproximadamente)

  • Também por ação do LH, o folículo ovariano que produziu a ovulação torna-se corpo lúteo, estrutura responsável por secretar estrogênio e progesterona (hormônios que continuam a preparar a parede uterina para possibilitar a implantação de um eventual embrião)8,9.
  • O estrogênio e a progesterona inibem a secreção hipofisária de LH e FSH para retroalimentação negativa9.
  • Na ausência de gravidez, o corpo lúteo torna-se menos sensível ao estímulo do LH (que, além disso, descende) e acaba se degradando, cessando sua produção de progesterona (e estrogênio)8.
  • Devido a este declínio na secreção de progesterona (e estrogênio), a parte mais interna da parede uterina (camadas compactas e esponjosas do endométrio) é eliminada, o que conhecemos como menstruação. Além disso, a hipófise retoma sua secreção de FSH e LH (porque a retroalimentação negativa para), iniciando um novo ciclo (uma nova Fase Folicular)8,9.
  • Se ocorrer gravidez, o trofoblasto (estrutura que permite ao embrião se nutrir) produz Gonadotrofina coriónica humana (HCG, o hormônio detectado em testes de gravidez). O HCG estimula o Corpo lúteo para continuar secretando progesterona, que é essencial para a viabilidade da gravidez. Nesse caso, o ciclo menstrual é interrompido até o final da gravidez8.
ciclo-menstrual

Quanto tempo dura o ciclo?

É considerado como duração padrão um ciclo de 28 dias. No entanto, é variável de pessoa para pessoa: pode estar entre 25 e 34 dias. bom lembrar que eles n duram a vida toda: partir dos anos normal os ciclos fiquem mais curtos. al disso durante seguintes menarca menstrua e nos anteriores menopausa sejam totalmente irregulares>8.

 

Entre aqueles que têm ciclos de 28 dias, as etapas do ciclo também não são "de livro". Apenas 10% têm uma Fase Folicular de 14 dias, ovulam no dia 14 e tem uma Fase Lútea de 14 dias. A realidade é que a duração da Fase Folicular pode variar entre 10 e 23 dias, e a da Fase Lútea entre 7 e 19 dias8. Ou seja: não é tão fácil saber quando você vai ovular.

 

Quanto ao período menstrual, ele dura 5 dias em média (de 2 a 12). A maior perda de sangue ocorre no dia 2 e, no total, em uma menstruação são eliminados em média 33,2 mL de sangue (de 10 a 84 mL)8.

Como conhecer meu ciclo

Conhecer o seu ciclo permite estimar os dias férteis do mês, o que pode ser útil tanto na busca quanto na prevenção da gravidez11.

 

A primeira coisa a ter em mente: o dia 1 do ciclo é considerado o primeiro dia da menstruação11 (e não o primeiro dia depois da menstruação, como às vezes se pensa).
Conhecer-ciclo
Os dias férteis se consideram 6 no total: 5 dias antes da ovulação + o dia após a ovulação. Isso ocorre porque os espermatozoides podem viver até 5 dias no trato genital feminino e o óvulo pode viver até 24 horas após ser liberado do folículo ovariano11.

 

Para estimar o dia da ovulação e saber a duração da fase folicular e da fase lútea, existem alguns métodos que podem ser usados. Isso ocorre porque as mudanças hormonais do ciclo menstrual geram mudanças perceptíveis na temperatura corporal e no muco cervical11.
  • Temperatura: a progesterona gera calor. Portanto, desde a ovulação e durante a fase lútea, a temperatura corporal basal sobe de 0,3 a 0,6ºC11.
  • Muco cervical: o muco cervical é mais fluido durante a fase folicular para favorecer a passagem dos espermatozoides. Desde a ovulação e durante a fase lútea, o muco cervical torna-se mais espesso e pegajoso devido à ação da progesterona12.

 

Monitorando e registrando esses parâmetros por vários meses, é possível fazer um calendário pessoal e estimar os dias férteis e inférteis.
  • Para quem quer conhecer seu ciclo para promover a gravidez: o dia com mais chances de fertilidade é o dia antes da ovulação8.
  • Para quem deseja conhecer seu ciclo para usar métodos anticoncepcionais naturais: é bom ter em mente que eles têm uma porcentagem de falha variando de 2 a 25%, dependendo do método natural utilizado12.

Como o ciclo menstrual afeta a pele?

O ciclo menstrual e a pele estão intimamente relacionados. E isso ocorre porque as células da pele têm receptores para estrogênio e progesterona, e também para andrógenos (hormônios sexuais "masculinos", presentes em vários graus)1.
  • Os estrogênios são importantes para a síntese de colágeno e ácido hialurônico, para manter a espessura da pele, para uma boa função de barreira, para uma boa hidratação, e para processos de cicatrização. Além disso, estimulam a produção de melanina, o pigmento da pele. Sua descida após a menopausa explica as alterações que a pele sofre durante essa fase, quando perde o estímulo estrogênico1.
  • A progesterona está associada ao aumento da secreção de sebo1.

 

Estudos sugerem que estrogênio e progesterona inibem reações inflamatórias na pele. Portanto, condições inflamatórias, como acne, dermatite, psoríase e rosácea pioram com a menstruação (quando o nível de ambos os hormônios cai)1.

Métodos anticoncepcionais influenciam a pele?

Contraceptivos não hormonal não influenciam a pele. Estes são:

Dispositivos intrauterinos (DIU)

  • DIU de cobre

Permanentes

  • Esterilização cirúrgica

Barreira

  • Preservativo (feminino ou masculino)
  • Diafragma, espermicida

Comportamentais

  • Calendário
  • Dos dias fixos/colar
  • Dos 2 dias
  • Da temperatura corporal basal
  • De Billings / da Ovulação
  • Sintotérmico
  • Coito interrompido
  • MELA (método de amenorreia lactacional)

 

Contraceptivos hormonais influenciam a pele. Eles incluem:

  • Contraceptivos orais combinados
  • Contraceptivos orais de progesterona
  • Pílulas anticoncepcionais de emergência e método Yuzpe
  • Injetáveis Mensais Combinados
  • Injetáveis de progesterona (trimestral)
  • Implante subdérmico
  • Anel vaginal combinado
  • Patches de combinação
  • DIU hormonal

Como funcionam os anticoncepcionais hormonais?

Eles fornecem hormônios ovarianos (estrogênio e progesterona, ou só progesterona) exogenamente, inibindo a produção de LH e FSH (hormônios hipofisários) por retroalimentação negativa. Assim, eles evitam o aumento de LH, sem o qual não ocorre a ovulação. Além disso, modificam as características do muco cervical, tornando-o mais escasso e espesso, dificultando a ascensão dos espermatozoides14.

 

Ao alterar o perfil hormonal durante o ciclo, eles também alteram a pele, que responde naturalmente a aumentos ou diminuições de estrogênio e progesterona1. Isso é válido tanto para os comprimidos quanto para o implante, o anel, o injetável e o adesivo.

 

Em relação ao DIU hormonal, seu mecanismo de ação é em nível local, evitando que a parede uterina responda aos estrogênios. Assim, a mantém em repouso e evita que ocorram as mudanças necessárias para a implantação de um eventual embrião. Além disso, também dificulta a ascensão dos espermatozoides ao alterar as características do muco cervical, retarda o transporte do óvulo pelas trompas de falópio e reduz a vida útil tanto do óvulo quanto do esperma. Ou seja, pode interferir na fertilização ou na progressão de uma gravidez (quando ocorreu a fertilização)14,15. Embora sua ação seja principalmente local, não para de liberar progesterona para o sangue, por isso, também pode influenciar a pele.

Como os anticoncepcionais hormonais afetam a pele?

Dependendo do tipo, os anticoncepcionais hormonais podem beneficiar ou prejudicar doenças da pele.

Métodos não combinados (apenas de progesterona)

A acne e o hirsutismo (excesso de pelos no corpo) são agravados pelos andrógenos (hormônios sexuais “masculinos”, presentes em todos em vários graus)3. No caso da acne, isso se deve ao fato da testosterona estimular a unidade pilossebácea, o que causa aumento na produção de sebo, hiperqueratinização e inflamação16,17.

 

O problema da progesterona é que, quando seu efeito não é contrabalançado pelo dos estrógenos, pode ativar o receptor de andrógeno, agravando essas condições. Isso é especialmente verdadeiro para os progestagênios clássicos. Felizmente, novos progestagênios sintéticos como Desogestrel ou Norgestimato têm menor atividade androgênica. Existe até um progestagênio de quarta geração, Drospirenona, que impede a ligação entre os andrógenos com seu receptor (sendo livre de efeitos adversos androgênicos)3. Os anticoncepcionais só de progesterona são3:
  • Pílulas anticoncepcionais só de progesterona: Geralmente indicado em pacientes que estão amamentando ou com contraindicações para estrogênios. É importante notar que estes geralmente não contêm os progestagênios de última geração, mas sim aqueles que tendem a piorar a acne3.
  • Injetável só de progesterona3.
  • Implante subdérmico3.
  • DIU com Levonogestrel: Embora possa piorar acne, esse efeito adverso diminui com o tempo (porque a carga hormonal liberada pelo DIU diminui)3.
  • Anel só de progesterona18

Métodos combinados (estrogênio + progesterona)

Eles são mostrados para melhorar condições como acne e hirsutismo3,19. Isso é graças aos estrogênios, que diminuem a secreção e a ação androgênica, neutralizando e superando o efeito da progesterona. Os estrogênios:
  • Diminuem a secreção de LH, que estimula a produção de andrógenos3.
  • Aumentam a síntese de globulina de ligação de hormônio sexual (SHBG), que se liga à testosterona livre, impedindo-a de se ligar ao seu receptor3.

 

Isso reduz a estimulação androgênica do folículo piloso3,16,20-22. Assim, os anticoncepcionais combinados são uma das opções para o tratamento de acne, principalmente para quem também procura um anticoncepcional. É bom ter em mente que as melhorias em termos de pele oleosa são vistas após um mês2, mas que para perceber melhorias em termos de acne é necessário um mínimo de 3 meses4.

 

Outro efeito dos anticoncepcionais combinados a considerar é a hiperpigmentação que podem causar os estrogênios por estimulalr a produção de melanina, o pigmento da pele. Quem começou a tomar pílulas e desenvolveu melasma sabe bem disso. O risco de isso acontecer é de 8% a 34%, sendo que quem tem histórico familiar e não toma cuidado com o sol tem maior risco5,6,23.

 

Um fato interessante é que, embora estejam combinados, o sistema transdérmico e o anel vaginal não melhoram tanto a acne nem o hirsutismo como as pílulas combinadas. Isso se deve ao fato de que pulam a passagem hepática, na qual a globulina de ligação de hormônio sexual (SHBG) é sintetizada, que diminui os níveis de andrógenos3.

Quando eu parar de tomar anticoncepcionais hormonais, que mudanças posso esperar na minha pele?

Assim como é prudente esperar alterações na pele ao iniciar os anticoncepcionais hormonais, também deve ser observado que pode haver alterações ao interrompê-los.
  • Pode haver um aumento em perda de cabelo a partir de 6 semanas após deixá-los. Felizmente, essa alteração tende a se normalizar após 3 a 6 meses3.
  • No caso dos anticoncepcionais combinados, quando você para, a pele pode ficar mais oleosa e podem piorar os surtos de acne. Por outro lado, ao interromper os anticoncepcionais só de progesterona, podem melhora a pele oleosa e erupções cutâneas de acne (se o progestágeno contido no anticoncepcional teve um efeito androgênico).

 

Lembre-se sempre de consultar o seu médico assistente antes de iniciar ou interromper qualquer tratamento, levando em consideração suas contraindicações e efeitos adversos.

 


Esperamos que este post tenha sido útil (além de longo!) e que lhe permita entender melhor a ligação entre seus ciclos e sua pele.

 

Para qualquer dúvida, estamos à disposição!

 

The Chemist Look Team

 

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